Formação: Creio na Igreja...

Introdução: há poucos dias celebrávamos a solenidade de Pentecostes, para alguns autores é aqui que se inicia o caminhar da Igreja. A Igreja é o lugar onde floresce o Espírito. Crer na Igreja está inseparável da fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo.  A palavra Igreja, do grego ‘ekklèsia’ (chamar), significa ‘convocação’. No AT tinha a designação de assembleia. Assim, nos dois termos temos a ideia de convocação, chamado, a fazer assembleia, estar juntos não tanto por um querer próprio, mas de Deus. A Igreja passou a ser no NT a comunidade de fé ou mesmo a assembleia litúrgica. Mas é preciso que compreendamos de que Igreja estamos falando, já que o termo se diluiu nas tantas outras denominações religiosas que passaram a se designar como Igreja.

Ao comprarmos determinadas mercadorias procuramos verificar a marca e os selos que recomendam o uso de determinado produto; se é econômico, etc. A nossa Igreja também tem alguns ‘selos’ que permitem reconhecê-la, que estavam no desejo d’Aquele que a fundou, dando-lhe a marca de sua origem divina. E deixou tão à vista que não pudéssemos deixar de reconhecê-la no meio da miscelânea de mil seitas, confissões e religiões do mundo atual.

Podemos reconhecer tal marca a partir de 4 pontos:

·         Unidade: Jo 10,16; 17,11.

·         Santidade: Jo 17,17.19; Tt 2,14.

·        Catolicidade (universalidade): do grego e do latim – ambos significam ‘tudo’ – Todo o ensinamento de Cristo a todos os homens, em todos os tempos e em todos os lugares: Mt 24,14; Mc 16,15; At 1,8.

·       Apostolicidade: o fato de remontar a sua linhagem, em linha ininterrupta, até os apóstolos. Deve ser capaz de mostra a sua legítima descendência de Cristo por meio dos Apóstolos. Mt 16,18; 28,18-20; Ef 2,19-20.

Muitas igrejas alegam ser de Cristo ou cristã, sem trazer em si tais selos. Diante desse cenário, de tantos que alegam isso ou aquilo, devemos estar dispostos a expor a nossa religião em qualquer ocasião; mas nunca a discutir sobre ela. Dizer: ‘a sua religião é falsa e eu lhe direi por quê?’, é algo que não pode ser dito assim diretamente, isso fecha a porta do diálogo. Quando conhecemos bem a nossa religião, podemos explica-la, inteligente e amavelmente, ao não católico ou não praticante. Haverá bastante esperança. Demonstrando porque a nossa Igreja é verdadeira, estabelecida por Cristo, não há razão para dizer-lhe que a ‘igreja’ dele é falsa. Ele deverá tirar as próprias conclusões.

 

1. O que significa a UNIDADE da Igreja?

Ela é vista a partir de 3 dimensões: Unidade de credo; unidade de culto; unidade de autoridade (CIC 815). Através do Credo manifestamos as verdades em que cremos. Verdades dadas a conhecer pelo próprio Cristo, reveladas pelo próprio Deus. Nas questões religiosas não existe o ‘juízo privado’. É ilógico admitir que Deus nos deu a conhecer certas verdades, e dizer que cada homem deve interpretar essas verdades de acordo com seu critério. Não esta em nossas mãos escolher e acomodar a revelação de Deus às nossas preferências ou às nossas conveniências. O ‘juízo privado’ leva a negar toda a verdade absoluta. O que nos leva ao relativismo. Eu passo a pensar que essa coisa é verdadeira enquanto é útil, mas se deixar de ser, deixa de ser verdade, se atrapalha o avanço do progresso (Deus), por exemplo.

Em resumo: bom ou verdadeiro é apenas o que, aqui e agora, é útil para a comunidade, para o homem como elemento construtivo da sociedade, e é bom e verdadeiro somente enquanto costuma ser útil. Esta filosofia tem o nome de pragmatismo. É difícil dialogar com um pragmático, pois este nega a existência de qualquer verdade real e absoluta.

Nós dizemos e cremos nas mesmas verdades quando recitamos o Credo dos Apóstolos. Estamos unidos também no culto, como nenhuma outra igreja, em toda parte a mesma missa (liturgia), os mesmos sete sacramentos. Na autoridade petrina, pela sucessão apostólica. Uma fé, um culto, uma cabeça. Esta é a unidade pela qual Cristo orou, a unidade que estabeleceu como um dos sinais que identificariam perpetuamente a Sua Igreja. É uma unidade que só pode ser encontrada na Igreja Católica.

 

2. SANTA.

Esta nota característica da Igreja nos surpreende diante daqueles que não buscam, por sua vida, testemunhar a sua fé. Por outro lado, a Igreja nunca foi pensada como uma elite religiosa ou espiritual. Jesus a comparou com uma rede que apanha todos os tipos de peixe, a um campo onde crescem o trigo e o joio... Sempre haverá pecadores. Apesar disso, Cristo sublinhou a santidade como uma nota distintiva: “Sede santos...” (CIC 823). 

            Apesar de constatarmos uma série de situações que se oporiam a esta afirmação, podemos apresentar o vasto catálogo de homens e mulheres que levaram uma vida de santidade eminente. A santidade de Cristo continua a operar na Igreja. Entre os vivos encontraremos aqueles que conscientes levam adiante o seu testemunho, buscando ser amável, paciente, abnegado e amistoso, generoso, sóbrio, leal e puro na conduta.

 

3. CATÓLICA. (CIC 830)

Que quer dizer? Antes de qualquer coisa queremos dizer que existiu todo o tempo desde o domingo de Pentecostes até os nossos dias. Uma existência ininterrupta de quase dois mil anos.  Digam o que quiserem as outras ‘igrejas’ que se consideram purificação da primitiva igreja ou ‘ramos’ da Igreja, o certo é que, nos primeiros séculos da história cristã, não houve outra igreja além da católica. As comunidades cristãs mais antigas são as nestorianas, as monofisitas e ortodoxas. A ortodoxa grega surgiu no sec. IX, quando imperador separou a Grécia da sua união com Roma. A confissão protestante mais antiga é a Luterana, século XVI, com Martinho Lutero.

É a única que ensina todas as verdades que Jesus ensinou e como Ele as ensinou. As outras igrejas não católicas nem todas aceitam o sacramento da penitencia e a unção dos enfermos, a missa e a presença real de Jesus na Eucaristia, a supremacia espiritual de Pedro e seus sucessores, a eficácia da graça e a possibilidade de um homem merecer a graça e o céu. 

É católica por sua expressão, está em todos os países do mundo e onde permitiram a entrada dos seus missionários (CIC 851). É a única que está em toda parte, por todo o mundo.

 

4. APOSTÓLICA. (CIC 857)

Desde o dia em que os Apóstolos impuseram as mãos sobre Timóteo e Tito, Marcos e Policarpo, o poder episcopal transmitiu-se pelo sacramento da Ordem Sagrada de geração em geração, de bispo para bispo.  Nós, que cremos, temos que ver tais marcas com lúcida segurança.

 

5. A razão, a fé...

Deus concedeu aos homens a capacidade de raciocinar e ele deseja que a utilizemos. Alguns não pensam, não questionam e tomam tudo que leem em livros e revistas como verdades. Nem todos os católicos têm uma compreensão inteligente da sua fé. Para muitos, a fé é uma aceitação cega das verdades religiosas baseadas na autoridade da Igreja, por falta de estudo ou preguiça mental. Para um católico que raciocina, a aceitação raciocinada, uma aceitação inteligente.

Devemos compreender a competência da Igreja para falar em nome de Cristo sobre matérias de fé doutrinal ou de ação moral, para administrar os sacramentos e exercer o governo espiritual, chamamos autoridade da Igreja.

Compreendemos a questão da infalibilidade do Papa ou de todos os bispos juntos com o Papa, na proclamação solene de certas matérias de fé ou de conduta, sob a promessa de Cristo (Mt 28,20 – ‘Eu estarei convosco todos os dias...’). Ele não nos permitiria cair em erro em matérias essenciais à salvação.

A estes elementos chamamos de atributos. Um outro atributo é a indefectibilidade – que no lembra que a Igreja permanecerá até o fim dos tempos como Jesus a fundou, que não é perecível, que continuará a existir enquanto houver almas a salvar. Esse atributo não nos deve induzir a um falso sentimento de segurança, sem nos darmos conta dos vários perigos que a rondam, pensando que nada de mau vai acontecer porque Cristo está na sua Igreja. Corremos o risco de reduzirmo-nos a um pequeno grupo cercado de uma cultura anticristã. Tanto ao cristão comum como ao sacerdote e religioso, Deus nos cobrará o testemunho e o zelo em levar adiante o evangelho.

A questão não é só contribuir com o dízimo, mas é também rezarmos pelas obras de apostolado, para que sejam abundantes e eficazes na aproximação dos outros da fé. Rezamos pelo nosso vizinho? Pelo nosso companheiro de trabalho? Convidamos um amigo a vir à missa e se não conhece o rito esforçamo-nos por ajuda-lo a compreender? Temos algum bom livro que possa ajudar o outro a entender a nossa fé, quando este se mostra curioso? 

A expressão “fora da Igreja não há salvação” significa que não há salvação para os que se acham fora da Igreja por culpa própria – alguém que abandonou a Igreja não poderá salvar-se se não retornar. Um não católico que sabe que ela é verdadeira e mesmo assim permanece fora, não poderá salvar-se. Aqueles que se encontram fora da Igreja sem culpa própria, e que fazem tudo conforme o seu reto entender, fazendo bom uso das graças que Deus certamente lhes dará em vista de sua boa vontade, esses poderão salvar-se. Isso não quer dizer que haja da minha parte uma despreocupação com relação a sua salvação. E que tanto faz uma Igreja como outra. Levar a sério a sua fé deve levar-nos a perguntar-nos: ‘que posso fazer para ajudar essa pessoa a reconhecer a verdade da Igreja Católica e unir-se a mim no Corpo Místico de Cristo?’. Deus espera lago de mim, para ajudá-lo a chegar até o outro.  

Formação – Credo III – A Redenção


1. No momento histórico de Jesus imperava o domínio romano, que na sua época e na sua concepção de mundo (menos do que atualmente) conseguiu conquistar o que muitos outros impérios tentam ou tentaram. Roma tinha mão menos pesada, pois permitia a cada povo conservar a seu governo local e suas leis, desde que pagasse os seus impostos. Para isso mantinha uma guarnição de soldados sob a ordem de um procônsul ou governador. 

- Mesmo sob o domínio romano, os judeus tinham o seu próprio Rei, Herodes, com seu próprio parlamento ou conselho chamado sinédrio. Havia uma mistura entre política e religião. Sobre esta influenciava os sacerdotes, os fariseus (“sangue azul”) e os escribas (homens da lei). Com poucas exceções, estes homens eram “políticos aproveitadores”. Tinham empregos cômodos e agradáveis, enchiam os bolsos à custa do povo, a quem oprimiam de mil maneiras. 

- Esse é o quadro político encontrado por Jesus quando iniciou sua pregação. Ao falara do Reino de Deus que queria estabelecer, gerou certa confusão nos ouvintes, que tomaram literalmente a ideia de Reino como realidade política, em vez de espiritual. Daí o desejo de fazer de Jesus o seu Rei, que expulsaria os romanos. 

- Ao saber dessa interpretação do povo, os sacerdotes, escribas e fariseus, temendo perderem suas influências políticas e vantagens, passaram a agir contra Jesus, particularmente quando este os condenou publicamente pela sua avareza, hipocrisia e dureza de coração. CIC 574. 

- Como calar Jesus? Em várias situações tentaram mata-lo, mas não conseguiam, pois não havia chegado a sua hora. É quando buscam alguém suficientemente íntimo para o entregar em suas mãos, cuja lealdade pudesse ser comprada. A hora de Jesus, chega quando o infeliz Judas se corrompe. CIC 612. 

- A angústia pela presciência da sua paixão: Jesus concedeu à sua natureza humana que provasse e conhecesse, como só Deus pode, a infinita maldade do pecado e todo seu tremendo horror. A condenação de Jesus acontece como num circo onde todo o espetáculo já havia sido planejado. Com testemunhas subornadas e contraditórias, partem de uma acusação simples: Jesus proclama-se Deus e isso era uma blasfêmia, e esta era castigada com a morte.

- Nesse espaço entra o poder romano, representado por Pilatos, pois somente eles podiam tirar a vida de um homem. Também este sucumbe às chantagens dos chefes judaicos, mesmo tentando aplacar a sede de sangue (flagelação). Conhecemos a conclusão desses fatos. 

2. A experiência de morte de Jesus abre, por assim dizer, a porta dos céus a todos aqueles que acreditaram em Deus e na sua misericórdia e que aguardavam seu sacrifício redentor, onde a glória de Deus se revelaria (a tradição chama de descida aos mortos ou mansão dos mortos). CIC 633. 

- Jesus ressuscita, como havia prometido, retornando à vida por seu próprio poder. A história prossegue com a reação judaica e a tentativa de abafar o fato de sua ressurreição. Jesus aparece a Maria Madalena e aos seus discípulos com o corpo glorificado, livre das limitações impostas pelo mundo físico. CIC 645. 

- As aparições de Jesus por um certo período ajudaram a consolidar a fé dos discípulos (CIC 643-4), completar a preparação e a missão dos seus apóstolos. O dom do Espírito prometido se concretiza, fazendo-os continuadores da missão (CIC 659-60). Finalizado esse período das aparições, ele retorna definitivamente ao seio do Pai, levando consigo sua humanidade. CIC 663-4. 

- Nossa fé nos diz que Aquele que entrou em nossa história no desamparo de Belém, retornará no final dos tempos em gloriosa majestade para julgar o mundo que seu Pai lhe deu e que ele mesmo comprou por tão grande preço.

Formação – Credo II – A Encarnação.


1. Deus eliminou a infinita distância que havia entre Ele e nós. Uniu a sua natureza divina com a nossa natureza humana (corpo e alma). Essa união não resultou num ser com duas personalidades, a de Deus e a do homem; ao contrário, as duas naturezas uniram-se numa só pessoa, a de Jesus Cristo, Deus e homem. Esta união permanece para nós um mistério da nossa fé, daí chamarmos de mistério da Encarnação. Esta união de duas naturezas numa só pessoa recebe um nome especial: chama-se união hipostática (do grego ‘hipostasis’, que significa ‘o que está debaixo’).

 

2. Maria. Deus, para dar uma natureza humana a Jesus, escolheu a Maria – CIC 488. Segunda a tradição, Maria tinha oferecido a Deus sua virgindade. Deus quando criou a alma de Maria, eximiu-a da lei universal do pecado original no mesmo instante em que a Virgem foi concebida no seio de Ana. Ele recupera a herança perdida por Adão: desde o início do seu ser, esteve unida a Deus. Mesmo tendo feito o seu voto, ela já estava prometida a um artesão chamado José. Numa sociedade estritamente masculina: ela necessitava de um homem que a tutelasse e protegesse. Deus não a deixaria sofrer o estigma da mãe solteira. José, era, de per si, um santo – o equivalente a palavra justo – não no sentido da justiça: aquele que vive de maneira reta diante de Deus. A história nos diz que Maria foi recebida por José nessas condições: um casamento que não se consumaria. A discussão não gira tanto em torno de uma virgindade física, mas de uma consagração a Deus. Os ‘irmãos e irmãs’ de Jesus, é uma tradução grega do original hebraico, que significa ‘parentes consanguíneos’, mais ou menos ‘primos’ – CIC 499-500.

- Se o pecado veio na liberdade de Adão, o sim de Maria se dá também na esfera da mesma liberdade – CIC 494. A partir desse momento, Maria age como corredentora do gênero humano. Esse momento de sua aceitação é recordado ou comemorado sempre que recitamos o ‘Ângelus’. Não deveria nos surpreender o fato que Deus preservasse da corrupção do sepulcro o corpo do qual tomou o seu próprio.

 

3. Em certos momentos gostáramos de ser dois para dar conta do recado. Mantendo a mesma personalidade em dois corpos, duas almas. Duas mentes aplicando-se a solucionar um problema. Mas, infelizmente somos um só, mas tal ‘fantasia’ poderia nos ajudar a compreender a personalidade de Jesus.

- A união da natureza divina e da natureza humana na pessoa de Jesus é um mistério, mas fazemos um certo de esforço para compreender um pouco. A encarnação do Verbo no seio de Maria, dá-se na união a um corpo e uma alma, uma natureza humana completa. O resultado foi uma só Pessoa, que atua sempre em harmonia, sempre unida, sempre com uma só identidade. O Filho de Deus não ‘levava’ simplesmente uma natureza humana, como um operário leva para cá e para lá o seu carinho de mão. Em e com a sua natureza humana, o Filho de Deus tinha (e tem) uma personalidade não indivisa e singular como a teríamos nós em e com as duas naturezas humanas que imaginamos na nossa fantasia.

- Essa dualidade de naturezas se manifestava naquilo que só Deus podia fazer; como ressuscitar mortos pelo seu próprio poder, e por outro realizar ações próprias do homem, como comer, beber e dormir, como sua natureza humana necessitava. Essa unidade de personalidade estava presente em suas ações, seja no milagre realizado, seja na necessidade humana. Essa mesma unidade de natureza presente em Jesus nos leva a chamar a Maria de ‘Mãe de Deus’. Ela foi mãe da pessoa inteira, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

 

4. A nossa fé cristã nos obriga a conhecer mais profundamente a pessoa de Jesus Cristo. Além do que nos falam os Evangelhos, seria oportuno tomar um bom livro que contenha a biografia de Jesus. Os seus autores apoiam-se no douto conhecimento que têm da época em que Jesus viveu, para dar corpo à concisa narração evangélica.

- Quais os pontos que destacam o CIC sobre Jesus? Praticamente aqueles que a liturgia celebra solene ou festivamente. O seu nascimento, a visita dos Magos (Jesus não veio salvar somente os Judeus) que é também a Epifania = ‘manifestação’. CIC 528. Depois a fuga para o Egito e o retorno a Nazaré, o outro momento importante se dá na 1ª páscoa celebrada por Jesus com Maria e José, onde se perde em Jerusalém, nos recorda Lucas. Mas particularmente ele salienta esse silêncio sobre a adolescência e a juventude de Jesus. Dize-nos apenas que este ‘crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens’ (Lc 2,52).

- Esse ‘crescer em sabedoria’ pode suscitar em nós a pergunta: ele teve que aprender como as demais crianças? Para alguns, não. Jesus tinha o conhecimento infinito que a sua natureza divina possuía; também o conhecimento humano que lhe cabia por sua condição de homem. Mas por causa dessa união com a natureza divina, seu conhecimento humano seria de três espécies:

* Conhecimento beatífico: aquele conhecimento que nos está reservado para quando morrermos: ver a Deus como ele é.

* Ciência infusa: um conhecimento completo das coisas criadas – como o que tem os anjos e tiveram Adão e Eva – dado diretamente por Deus, sem necessitar de raciocínios laboriosos.

* Conhecimento experimental: que ia adquirindo à medida que crescia e se desenvolvia. Ex: ela já sabia o que era andar (em teoria), mas o devido conhecimento experimental só foi adquirido quando suas pernas se tornaram suficientemente fortes para sustentá-lo.

- É normal que nos perguntemos por que Jesus desperdiçou 18 anos de sua vida vivendo ocultamente em Nazaré. Esse tempo parece querer nos ensinar que, diante de Deus, não existe pessoa alguma sem importância nem trabalho algum que seja trivial. CIC 531-533. Deus não nos mede pela importância do nosso trabalho, mas pela fidelidade com que procuramos cumprir o que pôs em nossas mãos, pela sinceridade com que nos dedicamos a fazer a sua vontade.

- A nossa redenção é assumida por Jesus no seu todo. Toda a sua vida tem importância redentora, seja nos silenciosos anos de Nazaré, seja nos 3 anos de vida ativa com que concluiu seu ministério. ‘Redimir’ significa recuperar algo perdido, vendido ou oferecido; aquilo que o pecado humano fez perder: o direito de herança à união eterna com Deus, à felicidade perene no céu. Jesus recupera esse direito, no ato de obediência infinitamente perfeito.

- Belém e Nazaré fazem parte de um caminho que leva ao calvário. A outra fase importante da sua vida é a que conhecemos comumente por vida pública. Tem como marco às bodas de Caná; durante 3 anos Jesus percorreu de um canto a outro o território da Palestina, pregando, ensinando, operando milagres, que expressavam sua infinita compaixão e corroboravam suas palavras. Se suas palavras não convencessem, seus sinais deveriam ajudar. CIC 547-8.

- No centro da pregação de Jesus estava a ideia do Reino de Deus, próximo, presente e dentro de nós. Para alguns esse Reino se traduziria pela presença da Igreja; preparação para o reino do céu. A escolha dos apóstolos seria a base de sustentação de todo esse edifício que tem por cabeça a Cristo.

 

- No próximo capítulo aprofundaremos o mistério da Redenção.

Formação - O Credo – Parte I – Eu creio em Deus


1. O que significa crer?

- A fé é uma resposta do homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca do sentido último da vida.

 

2. Como se chega a Deus?

- O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar.

- Se o homem existe é porque foi criado, por amor. Ele só vive plenamente, reconhece livremente esse amor, entregando-se a Ele.

- Esse desejo ou busca de Deus tem se manifestado ao longo da história de múltiplas maneiras. Mesmo com certa ambiguidade, o ser humano é um ser religioso.

- Mas esse desejo de Deus pode ser esquecido, ignorado e até rejeitado. As motivações podem ser diversas:

* A revolta contra o mal no mundo;

* A ignorância ou a indiferença religiosa;

* As preocupações com as coisas do mundo e com as riquezas (Mt 13,22);

* O mau exemplo dos crentes;

* As correntes de pensamento hostis à religião;

* O pecado (o pecador se esconde e foge de Deus – Jn 1,3).

- Da parte de Deus não cessa o chamado e a busca. O homem emprega, nessa busca todo o esforço da sua inteligência, a retidão de sua vontade, e também o testemunho dos outros, que o ensinam a procurar Deus.

 

3. Vias de acesso: ou provas de sua existência (não científicas) – argumentos convergentes e convincentes.

- Ponto de partida: o mundo material e a pessoa humana.

* O mundo: a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo. Deus: origem e fim do universo. Rm 1,19-20.

* O homem: com sua abertura à verdade, à beleza, sua liberdade, consciência, sua aspiração ao infinito, à felicidade, suas interrogações.

- O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmo nem o seu princípio primeiro nem o seu fim último. Mas participam de um outro ser, sem origem e sem fim. Nesse sentido a fé não se opõe à razão humana.

- A revelação de Deus se dá a partir das coisas criadas, pelo uso da razão. Mesmo podendo chegar, por suas forças, a este conhecimento natural, existem obstáculos que impedem esta mesma razão de chegar à estas verdades que se referem a Deus e a sua relação com o homem.

- Tais verdades transcendem completamente a ordem das coisas sensíveis e quando estas verdades atingem a vida prática e a regem, requerem sacrifício e abnegação. Aqui entra a resistência por parte dos sentidos, da imaginação, das más inclinações, levando a supor que seja falso ou ao menos duvidoso aquilo que não desejam que seja verdadeiro.

 

4. É possível falar de Deus?

- Nossa linguagem sobre Deus é limitada. Só podemos falar dele a partir das criaturas, e segundo o nosso modo humano limitado de conhecer e de pensar. Criados à sua imagem e semelhança, percebemos em nós perfeições (verdade, bondade, beleza) que refletem a perfeição infinita de Deus (Sb 13,5).

- Mas Deus transcende a toda criatura, por isso constantemente necessitamos purificar a nossa linguagem daquilo que possui de limitado, de proveniente da pura imaginação, de imperfeito, para não confundirmos Deus com as nossas representações humanas. Nossas palavras estão sempre aquém do mistério de Deus.

 

5. Fé: ligação com Deus.

- Toda vez que agimos com fé, aceitamos como verdadeira alguma coisa da palavra de outra pessoa. De certo modo, os relacionamentos amorosos são construídos sobre um ato de fé. Se você disser que me ama, não posso logicamente provar ou invalidar isto. Nem posso pedir que você o faça. Não existe prova final. Apenas sua palavra. Posso aceitar sua palavra ou me recusar a acreditar em você.

- Deus nos fala através do mundo criado, de Sua palavra e do próprio Jesus. Ele nos diz muitas coisas sobre si mesmo, sobre nós, nossas vidas e nosso mundo. O mais importante de todas as coisas é a verdade: “Eu amo você...  Ainda que uma mãe esquecesse o filho... Eu amei você desde toda eternidade...”. São estas palavras que regem toda a vida, morte e ressurreição de Jesus.

- O poder de crer é em si uma dádiva divina. O Deus cujas palavras chegaram até mim através dos séculos, deve ser uma luz brilhante na escuridão de minha compreensão, uma tranquilizadora mão sobre a minha, um toque de amor na face da minha solidão. Somente Deus pode fazer uma pessoa crer. Somente Deus pode dirigir-me para esse momento de verdade e paz.

- É assustador saber que posso recusar essa dádiva, ou ser tão superficial em meu “sim” que raramente usarei esse dom em minha vida diária.  Ao mesmo tempo, é excitante pensar que posso me abrir mais e mais a essa graça, dizer sempre profundamente “eu creio”. 

Abertura

 Queridos amigos e amigas,

            Paz e bem!

 

A pandemia nos trouxe a suspensão de nossa “Manhã de Formação”, e isso já vai mais de um ano, na esperança de retornarmos que se prolongou em demasia. Foi então que através do blog enviamos o texto resumo da Campanha da Fraternidade desse ano e pensamos em prolongar a formação através desse meio. Por isso vamos publicar aqui o material que temos arquivado, para os que já leram e os que não leram ou participaram de nossos encontros.

Tudo começou na época em que era pároco da São José Operário e nas assembleias diocesanas começaram as cobranças de formação para os leigos; estávamos ainda na preparação para o novo milênio e já sob o pastoreio de Dom Lessa. Na época utilizávamos o material publicado pela CNBB: “Rumo ao Novo Milênio”. Depois de um intervalo de 2 anos para estudos e assumindo a paróquia de São Domingos Sávio, retomei as manhãs de formação a partir de algumas linhas que julguei prioritárias: liturgia, catecismo e bíblia. Além dessas áreas específicas apresentava os documentos novos da Igreja que julgava importante e interessante à comunidade, além da Campanha da Fraternidade de cada ano ou algum novo tema elegido pela Igreja para aquele ano.  

O que queremos partilhar com vocês aqui é fruto desse período, e certamente acrescentaremos uma ou outra coisa, conforme o tempo nos permitir, e que esteja em ‘alta’ no nosso meio eclesial, como alguns textos sobre São José para esse ano especial. Sei que já tem muita coisa na internet e até mais interessante e bem fundamentada, mas ofereço esse humilde trabalho retirado de algumas fontes para ajudar-nos a conhecermos mais a nossa Igreja, o mundo da Bíblia e amarmos mais ao próprio Deus que, no dizer de Pedro, “das trevas vos chamou para sua maravilhosa luz” (1Pd 2,9).  

Façamos juntos esse caminho e que seja de proveito. Alguma pergunta que surgir pode ser enviada ao nosso e-mail e procuraremos responder ao que for possível. Grande abraço!

 

                                                                                              Pe. João Bosco Vieira Leite.