Mês da Bíblia – 2023 – Carta aos Efésios (Carta do Cativeiro)


1. Éfeso

            Segundo Atos dos Apóstolos, Paulo havia visitado brevemente Éfeso na sua viagem de Corinto a Jerusalém (At 18,18-22), dando início a uma comunidade que deixou aos cuidados de seus colaboradores Priscila e Áquila. Ao retornar a Éfeso para continuar a evangelização ali iniciada, Paulo prega por três meses na sinagoga e, por mais dois anos, serve da escola de Tiranos para seu apostolado (At 19,1-20).

Éfeso era uma das grandes cidades do Império Romano. No tempo de Paulo, devia ter 600 mil habitantes. Uma cidade de posição estratégica tanto a nível comercial, por causa do seu porto, e do ponto de vista religioso. Lá estava o templo de Ártemis, a deusa da fertilidade e da vida. Sendo cidade portuária e recebendo gente de diversas culturas e religiões, sobretudo Egito e do Oriente, era também um importante centro cultural, sendo então famosa a Biblioteca de Éfeso.

Paulo escolhe Éfeso como uma base de apoio para seu trabalho missionário. Permanecendo ali por cerca de três anos, pôde fundar mais de uma comunidade em Éfeso e alcançar as regiões vizinhas da Ásia Menor, fundando lá também mais comunidades, entre os anos de 52 e 57.

 

2. Onde e por quem foi escrita.

Paulo teria escrito essa carta no período de sua última prisão em Roma, entre os anos 61 e 63. Nas últimas décadas se têm questionado se a mesma foi escrita por Paulo e se teria sido enviado tão somente aos cristãos de Éfeso, pois antigo manuscrito não consta o nome Éfeso. Teria sido então uma carta circular onde o destinatário teria sido acrescentado depois? Tal teoria vem do fato da Carta não tratar de um assunto ou situação específica ou resposta à comunidade sobre um problema concreto como nas demais cartas.

A carta poderia ter sido escrita por um discípulo do Apóstolo tempos depois com o objetivo de propor como uma síntese de toda a mensagem de Paulo para as novas gerações de seguidores de Jesus, por volta dos anos 90 na Índia já não existiam os apóstolos.

A carta aos Efésios, juntamente com Colossenses, Filipenses e Filêmon, é considerada uma das cartas do cativeiro, pois nela há diversas menções à prisão de Paulo (3,1; 4,1; 6,20).

 

3. A carta

Podemos dividir a Carta aos Efésios em duas partes principais. A primeira, nos capítulos 1 a 3, é mais doutrinal, apresentando o ministério de Cristo e da Igreja, ou seja, o plano ou a vontade de Deus para a humanidade, ao agir por meio de Cristo e da Igreja. A segunda parte, nos capítulos 4 a 6, é mais exortativa, trazendo indicações de como os cristãos, salvos pela graça e pela fé em Cristo, devem comportar-se em família e em sociedade para testemunhar a vida nova em Cristo.

O autor de Efésios apresenta Jesus Cristo glorioso como a cabeça do corpo que é a Igreja universal. A preocupação não era mais tanto com as diferenças entre os seguidores de Jesus de origem judaica e os de origem pagã, mas com o que unia as igrejas no único corpo de Cristo. Ou seja, uma igreja que se define sobretudo pela unidade, e não mais pelo conjunto de igrejas diferentes e espalhadas pelo mundo. O tema da unidade aparece, sobretudo, nos capítulos 2 e 4 (4,4-16). Em Jesus Cristo, de fato, vive-se uma nova realidade, na qual todos, judeus e gentios, pela graça, como puro dom de Deus, foram salvos por meio da fé (2,8). A nova humanidade em Cristo implica um novo modo de viver, implica o desafio de abandonar a velha humanidade (4,22-24).

No terceiro capítulo, fala-se do mistério da salvação. Esse mistério é o plano de Deus: seu projeto de, em Cristo, salvar toda a humanidade. A missão do apóstolo Paulo é ser ministro desse projeto de fazer o Evangelho chegar a todas as nações (3,1-13). Segue, então, uma súplica (3,14-19) para que o amor que é raiz e alicerce, habite os corações pelo Espírito. A vivência do amor de Cristo forma a nova criatura.

Os capítulos 5 e 6 trazem, sobretudo, uma catequese ou ensinamento sobre o novo modo de se comportar dos que vivem segundo a nova humanidade em Cristo. A razão ou a motivação para o novo modo de vida é o próprio amor de Deus, manifestado em Cristo (5,1-2). Outras instruções se referem às relações entre marido e mulher, marcadas pela sociedade patriarcal daquele tempo (5,21-33), e que desafiam as comunidades de hoje a resgatar o protagonismo original que as mulheres tinham nas comunidades paulinas. Do mesmo modo, trata-se da convivência entre pais e filhos, entre patrões e escravos, destacando-se o respeito mútuo.

Antes das saudações finais, a carta circular compara a vida cristã a um combate (6,10-17). Os seguidores de Jesus devem armara-se como os soldados de então, com a armadura de Deus, o cinturão da verdade, a couraça da justiça, o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.