1.
Deus eliminou a infinita distância que havia entre Ele e nós. Uniu a sua
natureza divina com a nossa natureza humana (corpo e alma). Essa união não
resultou num ser com duas personalidades, a de Deus e a do homem; ao contrário,
as duas naturezas uniram-se numa só pessoa, a de Jesus Cristo, Deus e homem.
Esta união permanece para nós um mistério da nossa fé, daí chamarmos de
mistério da Encarnação. Esta união de duas naturezas numa só pessoa recebe um
nome especial: chama-se união hipostática (do grego ‘hipostasis’, que significa
‘o que está debaixo’).
2. Maria. Deus, para dar uma natureza humana a Jesus, escolheu a Maria – CIC 488.
Segunda a tradição, Maria tinha oferecido a Deus sua virgindade. Deus quando
criou a alma de Maria, eximiu-a da lei universal do pecado original no mesmo
instante em que a Virgem foi concebida no seio de Ana. Ele recupera a herança
perdida por Adão: desde o início do seu ser, esteve unida a Deus. Mesmo tendo
feito o seu voto, ela já estava prometida a um artesão chamado José. Numa
sociedade estritamente masculina: ela necessitava de um homem que a tutelasse e
protegesse. Deus não a deixaria sofrer o estigma da mãe solteira. José, era, de
per si, um santo – o equivalente a palavra justo – não no sentido da justiça:
aquele que vive de maneira reta diante de Deus. A história nos diz que Maria
foi recebida por José nessas condições: um casamento que não se consumaria. A
discussão não gira tanto em torno de uma virgindade física, mas de uma
consagração a Deus. Os ‘irmãos e irmãs’ de Jesus, é uma tradução grega do
original hebraico, que significa ‘parentes consanguíneos’, mais ou menos
‘primos’ – CIC 499-500.
- Se o pecado veio na
liberdade de Adão, o sim de Maria se dá também na esfera da mesma liberdade –
CIC 494. A partir desse momento, Maria age como corredentora do gênero humano.
Esse momento de sua aceitação é recordado ou comemorado sempre que recitamos o
‘Ângelus’. Não deveria nos surpreender o fato que Deus preservasse da corrupção
do sepulcro o corpo do qual tomou o seu próprio.
3.
Em certos momentos gostáramos de ser dois para dar conta do recado. Mantendo a
mesma personalidade em dois corpos, duas almas. Duas mentes aplicando-se a
solucionar um problema. Mas, infelizmente somos um só, mas tal ‘fantasia’
poderia nos ajudar a compreender a personalidade de Jesus.
- A união da natureza
divina e da natureza humana na pessoa de Jesus é um mistério, mas fazemos um
certo de esforço para compreender um pouco. A encarnação do Verbo no seio de
Maria, dá-se na união a um corpo e uma alma, uma natureza humana completa. O
resultado foi uma só Pessoa, que atua sempre em harmonia, sempre unida, sempre
com uma só identidade. O Filho de Deus não ‘levava’ simplesmente uma natureza
humana, como um operário leva para cá e para lá o seu carinho de mão. Em e com
a sua natureza humana, o Filho de Deus tinha (e tem) uma personalidade não
indivisa e singular como a teríamos nós em e com as duas naturezas humanas que
imaginamos na nossa fantasia.
- Essa dualidade de
naturezas se manifestava naquilo que só Deus podia fazer; como ressuscitar
mortos pelo seu próprio poder, e por outro realizar ações próprias do homem,
como comer, beber e dormir, como sua natureza humana necessitava. Essa unidade
de personalidade estava presente em suas ações, seja no milagre realizado, seja
na necessidade humana. Essa mesma unidade de natureza presente em Jesus nos
leva a chamar a Maria de ‘Mãe de Deus’. Ela foi mãe da pessoa inteira,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
4.
A nossa fé cristã nos obriga a conhecer mais profundamente a pessoa de Jesus
Cristo. Além do que nos falam os Evangelhos, seria oportuno tomar um bom livro
que contenha a biografia de Jesus. Os seus autores apoiam-se no douto
conhecimento que têm da época em que Jesus viveu, para dar corpo à concisa
narração evangélica.
- Quais os pontos que
destacam o CIC sobre Jesus? Praticamente aqueles que a liturgia celebra solene
ou festivamente. O seu nascimento, a visita dos Magos (Jesus não veio salvar
somente os Judeus) que é também a Epifania = ‘manifestação’. CIC 528. Depois a
fuga para o Egito e o retorno a Nazaré, o outro momento importante se dá na 1ª
páscoa celebrada por Jesus com Maria e José, onde se perde em Jerusalém, nos
recorda Lucas. Mas particularmente ele salienta esse silêncio sobre a
adolescência e a juventude de Jesus. Dize-nos apenas que este ‘crescia em
sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens’ (Lc 2,52).
- Esse ‘crescer em
sabedoria’ pode suscitar em nós a pergunta: ele teve que aprender como as
demais crianças? Para alguns, não. Jesus tinha o conhecimento infinito que a
sua natureza divina possuía; também o conhecimento humano que lhe cabia por sua
condição de homem. Mas por causa dessa união com a natureza divina, seu
conhecimento humano seria de três espécies:
* Conhecimento
beatífico: aquele conhecimento que nos está reservado para quando
morrermos: ver a Deus como ele é.
* Ciência infusa:
um conhecimento completo das coisas criadas – como o que tem os anjos e tiveram
Adão e Eva – dado diretamente por Deus, sem necessitar de raciocínios
laboriosos.
* Conhecimento
experimental: que ia adquirindo à medida que crescia e se desenvolvia. Ex:
ela já sabia o que era andar (em teoria), mas o devido conhecimento
experimental só foi adquirido quando suas pernas se tornaram suficientemente
fortes para sustentá-lo.
- É normal que nos
perguntemos por que Jesus desperdiçou 18 anos de sua vida vivendo ocultamente
em Nazaré. Esse tempo parece querer nos ensinar que, diante de Deus, não existe
pessoa alguma sem importância nem trabalho algum que seja trivial. CIC 531-533.
Deus não nos mede pela importância do nosso trabalho, mas pela fidelidade com
que procuramos cumprir o que pôs em nossas mãos, pela sinceridade com que nos
dedicamos a fazer a sua vontade.
- A nossa redenção
é assumida por Jesus no seu todo. Toda a sua vida tem importância redentora,
seja nos silenciosos anos de Nazaré, seja nos 3 anos de vida ativa com que
concluiu seu ministério. ‘Redimir’ significa recuperar algo perdido, vendido ou
oferecido; aquilo que o pecado humano fez perder: o direito de herança à união
eterna com Deus, à felicidade perene no céu. Jesus recupera esse direito, no
ato de obediência infinitamente perfeito.
- Belém e Nazaré fazem
parte de um caminho que leva ao calvário. A outra fase importante da sua vida é
a que conhecemos comumente por vida pública. Tem como marco às bodas de
Caná; durante 3 anos Jesus percorreu de um canto a outro o território da
Palestina, pregando, ensinando, operando milagres, que expressavam sua infinita
compaixão e corroboravam suas palavras. Se suas palavras não convencessem, seus
sinais deveriam ajudar. CIC 547-8.
- No centro da
pregação de Jesus estava a ideia do Reino de Deus, próximo, presente e dentro
de nós. Para alguns esse Reino se traduziria pela presença da Igreja; preparação
para o reino do céu. A escolha dos apóstolos seria a base de sustentação de
todo esse edifício que tem por cabeça a Cristo.
- No próximo capítulo
aprofundaremos o mistério da Redenção.
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