01 - Na vida litúrgica da Igreja celebramos a
páscoa de Cristo não só a cada oitavo dia, no domingo, como páscoa semanal, mas
sobretudo na Semana Santa, como páscoa anual, no chamado Tríduo Pascal da
Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. E a celebração do Tríduo Pascal é o
centro não só do ciclo da páscoa como tal, mas também de toda a liturgia e da
vida da Igreja. Na liturgia, ocupa o primeiro lugar em ordem de grandeza, não
havendo, pois, nenhuma outra celebração que se possa colocar em seu nível. É,
portanto, o cume da liturgia e de todo o acontecimento da redenção. Por isso,
deveria estar mais presente, como tema, em toda catequese e ser objeto de
formação e de interiorização nos encontros eclesiais, principalmente nas
equipes de liturgia.
02 - Começa o Tríduo Pascal na Quinta-Feira
Santa, na missa vespertina, chamada "Ceia do Senhor", véspera da
paixão e morte do Senhor, tem seu centro na Vigília Pascal do Sábado Santo e
encerra-se com a missa vespertina do Domingo da Páscoa.
03 - O Tríduo Pascal não é - saibamos - um
tríduo que nos prepara para o Domingo da Páscoa, mas um tríduo celebrativo do
Mistério Pascal de Cristo, que culmina no domingo, "Dia do Senhor".
Trata-se, pois, de uma única celebração, em três momentos distintos, o que
ainda não é devidamente compreendido por muitos. Santo Agostinho o chama de
sacratíssimo tríduo do Senhor sepultado e ressuscitado.
04 - Identifica-se a ação contínua da liturgia
no Tríduo Pascal com a verdade histórica dos últimos momentos de vida do
Redentor, ou seja, o fato histórico é seguido de maneira cronológica na
liturgia. Entregue, pois, na noite da Quinta-Feira Santa, o Divino Mestre ficou
entregue a seus inimigos, sem oferecer resistência, sem clamar por legiões
angélicas (Cf. Mt 26,53) e totalmente disponível para o grande sacrifício da
redenção. Verdade é que Cristo caminhou livremente para Jerusalém, depois da
Ceia de Betânia (Cf. Jo 12,12), sabendo que já se aproximava a hora de dar
glória ao Pai e de ser pelo Pai glorificado (Cf. Jo 12,23).
05 - Na qualificação litúrgica, podemos dizer
que, assim como o domingo derrama para os dias da semana a vitalidade da páscoa
do Senhor, o Tríduo Pascal derrama para todo o Ano Litúrgico a eficácia do
evento redentor de Cristo. Por aqui podemos entender que a liturgia gravita em
torno do Mistério Pascal de Cristo, na sua expressão mais viva: a Eucaristia.
06 - Aplica-se sobretudo ao Domingo da Páscoa
tudo o que se diz sobre o domingo, como fundamento do Ano Litúrgico. E mais: o
Domingo da Páscoa deve ser visto, celebrado e vivido como o "domingo dos
domingos", dia, pois, sagrado por excelência. Se todos os domingos do ano
já têm primazia fundamental sobre todos os outros dias, o Domingo da Páscoa
destaca-se ainda mais pela sua notoriedade cristã, dada a sua relação teológica
com o Senhor Ressuscitado, (Kyrios).
07 - Segundo Santo Hipólito, "...Cristo
brilha sobre todos os seres mais do que o sol! É por isso que, para nós que
cremos nele, se instaura um dia de luz, longo, eterno, que não se apaga: a
páscoa mística”.
QUINTA-FEIRA
SANTA
08 - Na véspera de sua paixão, Cristo orou no
Monte das Oliveiras (Cf. Mt 26,36) e teve sua paixão concretamente iniciada.
Desejando ardentemente celebrar a páscoa com os seus discípulos (Cf. Lc
22,14-15), ele então os reúne e com eles celebra a Ceia Santa. Sua morte
sacrifical é aqui antecipada sacramentalmente, isto é, sua entrega na cruz, que
aconteceria no dia seguinte, aqui se faz real e misticamente, em mistério, pois
a antecipação sacramental da própria morte está fora das estreitezas da ação
puramente humana.
09 - A Eucaristia, verdadeiro sacrifício e
sacramento da eterna redenção, é então nesse dia instituída, como também é
instituído o sacerdócio ministerial ordenado e promulgado o mandamento novo do
amor.
10 - Como sabemos, na liturgia o evangelho
sempre narra a temática principal da celebração, o que, porém, não acontece na
Quinta-Feira Santa, onde a instituição da Eucarística nos é transmitida pela
narração de São Paulo, na segunda leitura, como tradição paulina da comunidade
primitiva. No evangelho, de João, vemos o exemplo de Jesus, lavando os pés dos
discípulos e dando-lhes o mandamento do amor, no rito do “Lava-pés”, que a
Igreja também conserva, em rara mimese litúrgica. Podemos dizer que o rito
simbólico do “Lava-pés” aponta-nos o serviço fraterno, que deve nascer sempre
de nossa vida sacramental e eucarística.
11 - A exemplo do que foi mostrado no Domingo
de Ramos, a liturgia da Quinta-Feira Santa vai estar inserida também na dupla
característica do Mistério Pascal: a cruz e a glória, como pode-se ver desde o
canto de entrada, inspirado em Gl 6,14 (Gloriar-se na cruz de Cristo). É, pois,
celebração solene, com incensação, ornamentação da igreja e do altar, canta-se
o Glória, mas não se canta o Aleluia nem se recita o “Creio”. Em lugar do
Aleluia, canta-se a aclamação do “mandamento novo”. Após o canto do Glória, o
órgão deve silenciar-se, como também outros instrumentos, o que mostra
claramente o clima da paixão de que já se revestiu a liturgia. Também no fim da
celebração, o altar é desnudado, e os ritos finais cedem lugar à procissão do
Santíssimo para a capela lateral. É muito desejável que, nesse dia, onde for possível,
se dê a comunhão sob as duas espécies.
12 - A liturgia da Quinta-feira Santa é a mesma
para todos os anos, e todos os seus textos são de intensa riqueza. Na oração do
dia, “que se concentra na idéia da instituição da Eucaristia como sacrifício e
como banquete do amor”, pedimos a Deus que também nós cheguemos à plenitude da
vida e do amor. A leitura do Antigo Testamento vai nos falar do cordeiro
pascal, cujo sangue serviu de sinal para a libertação do povo de Israel, e a
ceia noturna daquele povo foi uma introdução à saída da escravidão, tudo
portanto como figura da libertação definitiva que, mais tarde, Deus
providenciaria na pessoa de seu próprio Filho, como recordamos na liturgia e
atualizamos de maneira sacramental.
13 - Tudo então na Quinta-Feira Santa nos leva
à descoberta do amor. Cristo nos dá um mandamento novo, e no rito do “Lava-pés”
ele nos mostra que veio não para ser servido, mas para servir, mandando-nos
fazer o mesmo, a fim de o seguirmos nas trilhas da redenção. É ele, pois, que
nos escolhe e nos ama primeiro, na nossa condição real de pecadores. Não espera
que nos tornemos dignos de seu amor, mas ama-nos em nossa indignidade. Esta é a
ótica de todo o Mistério Pascal: Deus nos ama com amor misericordioso, acima de
nossa compreensão. Não nos ama porque somos amáveis, mas se somos amáveis é
porque ele nos ama.
LEITURAS
BÍBLICAS DA QUINTA-FEIRA SANTA (ANOS A, B e C)
Ex 12,1-8.11-14 Sl
116(115),3-4.6-7.8.9 1Cor 11,23-26 Jo 13,1-15
SEXTA-FEIRA
DA PAIXÃO
14 - Tendo Cristo celebrado a ceia com os seus
discípulos, e tendo sido, na mesma noite, entregue aos poderes do mundo,
celebra-se hoje então sua morte sacrifical, sua Paixão e sua cruz gloriosa.
Neste dia, como se sabe, não se celebra a missa, como também nenhuma outra
liturgia senão a Solene Ação Litúrgica da tarde. É um dia marcado pelo pesar e
pelo jejum. De participação viva na Paixão do Senhor, como foi historicamente
acontecido. O próprio clima da igreja é de paixão: altar desnudado, sem flores,
sem som festivo. Apenas na hora da comunhão se coloca sobre o altar uma pequena
toalha, o corporal e as âmbulas. Saibamos, porém, que nem tudo na Sexta-Feira
Santa é dor e tristeza. Já foi dito que, na espiritualidade do Mistério Pascal,
a cruz se mergulha na glória e a tristeza se converte em alegria. Por isso, a
cruz, em rito solene, é mostrada aos fiéis e por eles adorada, momento em que
se cantam não apenas os lamentos do Senhor, mas também cantos da cruz gloriosa.
15 - A Igreja celebra então na Sexta-Feira da
Paixão uma solene ação litúrgica, na parte da tarde, constituída de três
partes: Liturgia da Palavra, adoração da Cruz e comunhão eucarística, esta
guardando memória da noite anterior, com hóstias consagradas na missa solene.
Fazem parte da Liturgia da Palavra a Oração Universal, com suas dez intenções.
Tudo indica que tal oração dá origem às preces da comunidade em nossas missas e
se inspira nas recomendações de São Paulo a Timóteo (Cf. 1Tm 2,1-2). O rito
inicial é feito em silêncio e sem canto. Chegando ao altar, o sacerdote se prostra
ou se ajoelha. Também a ajoelhar-se, por um instante, são convidados os
ministros e toda a assembléia celebrante. Logo após, dirigindo-se ao altar, o
sacerdote reza uma oração própria, sem o “oremos”, e se inicia a Liturgia da
Palavra.
16 - No segundo momento da Ação Solene, vamos
ter a Adoração da Cruz. Ela é trazida, coberta com véu vermelho,
processionalmente da sacristia, pelo diácono, ladeado por dois acólitos, com
velas acesas, e mostrada aos fiéis, num rito em que, por três vezes, com o canto
“Eis o lenho da cruz...”, é desvelada. Colocada, em seguida, sobre o altar, com
as velas, realiza-se então a adoração dos fiéis.
17 - O terceiro e último momento da liturgia é
o da comunhão. Como se falou antes, é colocada sobre o altar apenas uma pequena
toalha, o corporal e as âmbulas, contendo hóstias consagradas na missa da
Quinta-Feira Santa. Aqui, simbolicamente, se une a liturgia da Sexta-Feira
Santa à da Ceia do Senhor. Após a oração do Pai Nosso, é distribuída então a
comunhão aos fiéis.
18 - A exemplo do rito inicial, também o rito
final é simples: após a oração depois da comunhão, o sacerdote estende as mãos
sobre o povo e pede a Deus a bênção sobre ele. Omite-se o rito de despedida, e
todos se retiram em silêncio.
LEITURAS
BÍBLICAS DA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO (ANOS A, B e C)
Is
52,13-53,12 Sl 31(30), 2+6.12-13.15-16.17+25 Hb 4,14; 5,7-9 E Paixão: Jo
18,1-19,42
VIGÍLIA
PASCAL DO SÁBADO SANTO
19 - A tradição cristã sempre associou a noite
da ressurreição à noite da páscoa judaica, descrita em Ex 12,1-14, com o
caráter, porém, de vigília em honra do Senhor. E a Igreja, a exemplo de seu
mestre, não celebra também a Eucaristia desde a noite de Quinta-Feira Santa,
até que o Senhor ressuscite verdadeiramente (Cf. Lc 22,16). O Sábado Santo se
caracteriza também como dia de silêncio e de pesar, mas vivido na expectativa
da ressurreição do Senhor.
20 - Mãe de todas as santas vigílias, na
expressão de Santo Agostinho, a Vigília Pascal faz resplandecer no horizonte da
vida humana a recapitulação de todo o universo, em Cristo. É a noite gloriosa
do Senhor, que dá dimensão e sentido também à noite do Natal. Nesta vigília, a
Palavra de Deus vai ressoar no coração de toda a Igreja, mostrando a todos os
fiéis como Deus é fiel no cumprimento de suas promessas. Entoa-se solenemente o
Glória, e, depois das longas semanas da Quaresma, volta-se a entoar o Aleluia
em verdadeira exultação pascal.
21 - A liturgia desta Sagrada Vigília vai,
assim, se desenrolando aos nossos olhos como uma celebração cada vez mais iluminadora
de nossa vida, dando-lhe um sentido inteiramente novo, encorajando a nossa
existência para a nobreza de uma vida fraterna. Assim, o Círio Pascal,
preparado, aceso e conduzido no início da celebração, em rito processional,
como que dissipando as trevas da igreja apagada, lembra-nos a coluna de fogo,
na qual Javé precedia, na escuridão da noite, o povo de Israel ao sair do Egito
(Cf. Ex 13,21-22). Cristo é a luz do mundo, e quem o segue não anda nas trevas
(Cf. Jo 8,12), eis o simbolismo último do Círio Pascal.
22 - O tesouro maior da liturgia encontra-se,
pois, nas celebrações desta noite. Como já se falou, o Tríduo Pascal da Paixão,
Morte e Ressurreição do Senhor é a celebração mais importante na vida da
Igreja, com sua posição mais alta na escala da Liturgia. São quatro os momentos
litúrgicos da Vigília Pascal: a Liturgia do Fogo e da Luz, a Liturgia da
Palavra, a Liturgia Batismal e, encerrando, a Liturgia Eucarística.
LITURGIA
DA LUZ E DO FOGO
23 - Com a igreja apagada, inicia-se a Liturgia
da Luz, na porta da igreja ou em outro local apropriado, com a bênção do fogo e
a preparação do círio, estas com ricas palavras alusivas a títulos do Senhor
(“Cristo, ontem e hoje, Princípio e fim, Alfa e Ômega. A ele o tempo e a
eternidade, a glória e o poder pelos séculos sem fim. Amém”. Pregando os grãos
de incenso no Círio, como as cinco chagas, o texto continua: “Por suas santas
chagas, (1) suas chagas gloriosas (2), o Cristo Nosso Senhor (3) nos proteja
(4) e nos guarde. Amém (5)”. Acendendo então o Círio no fogo novo, o sacerdote
ainda diz: “A luz do Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as trevas de
nosso coração e de nossa gente”. Em seguida, elevando o Círio, e com o canto
“Eis a luz de Cristo”, por três vezes, a que a assembléia responde “Demos
graças a Deus!”, é ele então conduzido processionalmente pelo centro da igreja.
Os fiéis podem acender nele as suas velas. Na terceira vez do canto, acendem-se
as luzes da igreja, e o Círio é então colocado no lugar próprio, onde vai ser
incensado. Canta-se em seguida o Exultet, findo o qual se encerra a Liturgia da
Luz, momento em que os fiéis apagam suas velas.
LITURGIA
DA PALAVRA DA VIGÍLIA PASCAL
24 - Nove leituras são propostas na Liturgia da
Palavra da Vigília Pascal, sete do Antigo Testamento e duas do Novo. As do AT
podem ser reduzidas a três, permanecendo as duas do Novo Testamento, sendo que,
do AT, a terceira leitura não pode ser omitida, por tratar da saída do povo de
Israel do Egito, figura, pois, da libertação definitiva operada por Deus através
de seu Filho Jesus. Cada leitura é seguida de um responsório e de uma oração
presidencial, esta muito objetiva, ligada à própria leitura.
25 - Encerradas as leituras do Antigo
Testamento, entoa-se solenemente o Glória, já a partir de agora na harmonia do
órgão e de instrumentos musicais, estes em silêncio, como sabemos, desde a
noite da Quinta-Feira Santa. Acendem-se também, neste momento, as velas do
altar, tirando sua chama do Círio Pascal. Aqui a Igreja se reveste de toda a
alegria pascal. Segue-se então ao canto do Glória a primeira leitura do Novo
Testamento (Rm 6,3-11), que é uma alusão profunda ao fato neo-testamentário, ou
seja, a regeneração pelo Batismo, o homem novo, na expressão de São Paulo.
Todos nós, sepultados com Cristo, pelo batismo, com Cristo todos nós também
ressuscitamos. É, pois, a novidade total, razão última da redenção operada por
Deus.
26 - Cantado, após a leitura de São Paulo, o
Salmo aleluiático da ressurreição (Sl 118(117), entoa-se solenemente o tríplice
Aleluia, proclamando, em seguida, o evangelho, levando-se em consideração o
ciclo anual de A, B e C. Com a homília, encerra-se a segunda parte da liturgia.
LEITURAS
BÍBLICAS DA LITURGIA DA PALAVRA
(Não
se dá aqui o texto dos salmos responsoriais devido à difícil compilação de seus
versículos)
1ª
leitura - Gn 1,1-2,2 (ou 1,1.26-31a)
2ª
leitura - Gn 22,1-18 (ou 22,1-2.9a.10-13.15-18)
3ª
leitura - Ex 14,15-15,1
4ª
leitura - Is 54,5-14
5ª
leitura - Is 55,1-11
6ª
leitura - Br 3,9-15.32-4,4
7ª
leitura - Ez 36,16-17a.18-28
8ª leitura
- Rm 6,3-11
Evangelho:
Ano A
- Mt 28,1-10
Ano B
- Mc 16,1-12
Ano C
- Lc 24,1-12
LITURGIA
BATISMAL
27 - Como já foi dito antes, sempre a noite da
Vigília Pascal do Sábado Santo foi escolhida para a celebração mais apropriada
do Batismo, principalmente de adultos. Ainda hoje há também esta recomendação
pastoral, infelizmente não levada muito a sério por algumas comunidades. Nesta
parte da liturgia, além do batismo daqueles que foram preparados na Quaresma,
faz-se também a renovação das promessas batismais de todos os fiéis. Este é,
aliás, um rito que deve sempre ser vivido e valorizado em função do sentido
pascal, assumido pelo batismo, pois, pela renovação das promessas batismais,
atinge-se a culminância dos exercícios quaresmais.
28 - Inicia-se, pois, essa terceira parte da
Vigília Pascal com o chamado dos batizandos pelo presidente e apresentação
deles à assembléia, seguindo-se o canto da Ladainha de Todos os Santos e a
bênção da água batismal, havendo na bênção da água a imersão nela do círio pascal
e sua emersão, significando, pela imersão, a nossa morte com Cristo, e, na
emersão, a nossa ressurreição com ele. Prossegue então a liturgia: com o
batismo, com a renovação das promessas batismais e com a aspersão da
assembléia, encerrando-se a terceira parte da liturgia.
29 - Ainda com referência à Liturgia Batismal,
é preciso que se observe o seguinte: a Ladainha de Todos os Santos só é cantada
ou rezada quando houver batismo ou bênção da água batismal. Quando o sacerdote
benze a água só para a aspersão da assembléia, a ladainha é omitida e, nesse
caso, a oração é também mais simples, reduzida, não tão rica como a do rito
batismal, em que há a imersão do círio, como falamos. Por isso, quando não
houver batismo, deve-se fazer pelo menos a bênção da água batismal, que será
usada na aspersão e nos batizados do Domingo da Páscoa, podendo então aí cantar
a Ladainha, empobrecendo menos a liturgia. O que não se deve fazer, e isto
acontece talvez por desconhecimento, é cantar a Ladainha sem que haja a celebração
do batismo nem bênção da água batismal.
LITURGIA
EUCARÍSTICA
30 - A quarta e última parte da grande Vigília
Pascal do Sábado Santo é a Liturgia Eucarística, celebrada pela última vez na
noite da Quinta-Feira Santa. Aqui ela volta, tendo em vista o cumprimento da
profecia do próprio Cristo, segundo a qual ele só voltaria a celebrá-la no
Banquete eterno do Reino do Pai (Cf. Lc 22,16).
31 - A Eucaristia que agora então se celebra
inicia-se já na preparação e apresentação das oferendas, pois toda a Liturgia
da Palavra e ritos iniciais foram liturgicamente celebrados nas partes
anteriores da Vigília Pascal.
32 - Podemos dizer que a fisionomia dessa
última parte é de alegria pascal, de Igreja enternecida com a luz do Cristo
Ressuscitado, mergulhada no abismo de tão profundo mistério e envolvida com a
missão redentora de seu Divino Mestre. A fisionomia dos participantes deve ser
então uma fisionomia de ressuscitados, de homens novos, gerados que foram pela
graça redentora de Cristo, contemplando agora um horizonte sempre mais
resplandecente e mais fúlgido. Fisionomia - devemos insistir - de homens
capazes de reconstruir um mundo novo, alicerçado na paz, na justiça, no amor,
na concórdia e na fraternidade, onde a Eucaristia brilhe mais intensamente como
lugar de partilha, de verdadeira comunhão e de ação libertadora, no sinal vivo
do Cristo Ressuscitado.
DOMINGO
DA PÁSCOA E DA RESSURREIÇÃO
33 - O tema central do Domingo da Páscoa, como
não poderia deixar de ser, é o da ressurreição do Senhor. “Deus o ressuscitou”,
eis a frase principal (Cf. At 10,40; Lc 24,34), como fórmula clássica da fé e
da pregação cristã. Deus faz justiça ao Filho, ressuscitando-o (Cf. Jo,16,10).
Ressuscitado, Jesus mostra que as Escrituras falam dele com clareza (Cf. Lc
24,25-27) e faz o coração dos discípulos arder (Lc 24,32), dando-lhes a
conhecer no partir do pão (Lc 24,30-31). Assim, a ressurreição de Jesus nos dá
a certeza de nossa própria ressurreição (Cf. Jo 11,25; 14,1-4), como também a
certeza de sua presença mais viva entre nós, principalmente quando nós a
pedimos (Cf. Lc 24,29.
34 - Na reforma da liturgia, somente o Natal e
a Páscoa têm sua celebração com Oitava, isto é, com um prolongamento da festa
por oito dias, onde a liturgia dá ênfase ao tema central comemorado. Também, a
exemplo do Natal, a missa do Domingo da Páscoa tem suas perícopes evangélicas
mudadas, de conformidade com o fato histórico. Assim, na missa da noite (4ª
parte da Vigília Pascal do Sábado Santo, ligada, em essência, à 2ª parte -
Liturgia da Palavra), o Evangelho, segundo o ciclo anual de A, B e C (Mt
28,1-10; Mc 16,1-12 e Lc 24,1-12), sempre vai trazer o relato do sepulcro vazio
e das aparições às santas mulheres. Já na missa do dia, o evangelho é de João
(Jo 20,1-9), que relata a corrida de Pedro e de João ao sepulcro, diante do
fato narrado pelas mulheres. Na missa da tarde, o evangelho pode ser o de Lucas
(Lc 24,13-35), que narra a desilusão dos discípulos de Emaús, na tarde daquele
primeiro dia da semana, isto é, no Domingo da Ressurreição, quando então voltaram
de Jerusalém para a aldeia, comentando todos os acontecimentos daqueles dias.
Vê-se, pois, que as perícopes evangélicas narram os fatos de maneira
cronológica, ou seja, na ordem própria dos acontecimentos.
35 - O Domingo da Páscoa é então o grande Dia
do Senhor (Sl 118(117), 24), que torna pascais todos os domingos e faz de todas
as celebrações litúrgicas, centradas como estão no Mistério Pascal de Cristo,
momentos salutíferos de redenção, de exaltação e de louvor ao Deus vivo e
verdadeiro (Cf. Ap 1,17-18). Seu clima é então continuação e plenificação ainda
mais daquilo que falamos sobre a Celebração Eucarística da Vigília Pascal e, na
qualificação litúrgica, ele é “o domingo dos domingos”, na expressão feliz de
Santo Atanásio.
36 - No evangelho da missa do dia (Jo 20,1-9),
são interessantes alguns detalhes: Pedro e João, diante do relato das mulheres,
correm ao sepulcro, mas João chega primeiro. Seria aqui o amor do “discípulo
amado” a mostrar-se mais forte e dinâmico, por isso correu mais? Diz o evangelho
que João, porém, não entrou no sepulcro. Seria esperar e respeitar a primazia
do “Príncipe dos Apóstolos”? Pedro então chega, diz o evangelho, vê os detalhes
do sepulcro vazio e nele entra. Em seguida, entra também João, que “vê” e
“crê”. A revelação de que “João vê e crê” seria uma virtude do “discípulo
amado”? Como os dois discípulos de Emaús, Pedro e João não tinham também,
ainda, compreendido as Escrituras.
37 - Vejamos então no Domingo da Páscoa um
convite sereno para vivermos a ressurreição, desde já, na dinâmica do amor e da
fraternidade. E Cristo, o Ungido de Deus, vai exigir de nossa vida que ela seja
límpida, transparente, espelho do bem e sinal também de salvação, numa profunda
sensibilidade para o amor fraterno, na prática da justiça, enfim como vida
plenamente missionária. Finalmente, a partir deste domingo, até Pentecostes,
começa a antífona mariana “Regina coeli” (“Rainha do céu, alegrai-vos...”), na
oração noturna, chamada “Completas”, da Liturgia das Horas. Com o Domingo da
Páscoa começa também o Tempo Pascal, que se encerrará em Pentecostes.
PERÍCOPES
BÍBLICAS DO DOMINGO DA PÁSCOA (ANOS A, B e C)
1ª
leitura - At 10,34a.37-43
Salmo
- Sl 118(117),1-2.16ab.17.22-23
2ª
leitura - Cl 3,1-4 (ou 1Cor 5,6b.8)
Evangelho
- Jo 20,1-9 (ou em missa vespertina: Lc 24,13-35)
Nenhum comentário:
Postar um comentário