São José – IV

O Esposo de Maria

 

Como já havíamos expressado anteriormente, os dados sobre como são José desempenhou a missão a que foi chamado e às circunstâncias em que se desenrolou a sua vida são bastante escassos. E muitos desses dados não são seguros e fidedignos, por isso, alguns elementos que tentamos construir sobre são José vêm da fé e da meditação, mas apoiados na doutrina da Igreja.

Quando José aparece mencionado pela primeira vez no Evangelho é já como um homem ligado a uma mulher: “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo” (Mt 1,17). Durante muitos séculos, São José era apresentado como um ancião, provavelmente por influência do apócrifo de São Tiago e outros parecidos. Nesses escritos conta-se que a Virgem Maria, já residente no Templo de Jerusalém em sua consagração, chegada a idade dos doze anos, período da menstruação, não podendo permanecer no Templo, é entregue aos cuidados de um ancião, que já possuía filhos (daí também a justificação dos irmãos de Jesus e também opor-se à heresia de que José era o pai natural de Jesus), ‘o santo ancião José’.

Muitos autores não concordam com essa opinião generalizada de considerar São José um homem idoso. “Já no século XVII se argumentava com razões poderosas, para defender a juventude de José dos esposais com Maria. É evidente que a honra da Virgem ficava mais bem defendida com um marido jovem do que com um velho. Como se observou acertadamente, a avançada idade de São José tornaria ridículo o voto de castidade que, segundo opinião generalizada, ele fez. E, além disso, convém ter em conta as circunstâncias em que se iria desenrolar a vida da Virgem e de Jesus, exigiam o apoio de um homem jovem, capaz de decisão e de esforço, e não de um velho” (Federico Ruiz, “José, Esposo de Maria”).

Nos planos divinos estava o nascimento de Jesus no seio de uma família, ainda que sendo um núcleo pequeno. Maria e José tinham papeis a desempenhar nos anos que precederam a vida pública de Jesus, e foram sobrenaturalmente instruídos para isso. Entra aqui também a questão da descendência de José da casa de Davi, afirmada por Mateus e Lucas, e como entre os judeus as uniões se dão entre membros da mesma estirpe, fica claro que Maria também era da estirpe real. O casamento com José também tinha por finalidade evitar que Maria sofresse a pena legal ao conceber um filho que não era do seu esposo (cf. Dt 22,21).

Mas fora todas essas razões, é preciso lembrar que qualquer criança precisa de uma família, e que essa seja completa. Um lar precisa de um grande coração, mas também de uma cabeça. Deus poderia ter prescindindo de José ou mesmo da Virgem para estabelecer de outros mil modos o plano salvífico, mas Ele o quis assim, no seio de uma família, de acordo com o lugar, as gentes e o tempo da sua vinda ao mundo, e que deveria se realizar sem estridências. Assim, foi melhor que julgassem a Jesus como filho de um homem comum, sendo Filho do Pai Eterno, do que comentarem sobre a honra de Maria. Deus também não a quis casada com um homem que lhe desse outros filhos. Que Ele nascesse no seio de uma família do povo eleito, para cumprir-se as profecias. José deveria amá-la e ser homem o bastante para respeitar sua pureza virginal. Foi José esse homem justo que Deus elegeu para essa difícil missão. “E toda a santidade de José está no cumprimento fiel até o escrúpulo desta missão tão grande e tão humilde, tão alta e tão escondida, tão resplendente e tão cercada de trevas” (Pio XI).

É importante que guardemo-nos de pensar que o matrimônio de José e de Maria seria apenas uma espécie de ficção legal. Casaram-se porque se amavam é só depois, quando já estavam desposados – mas ainda sem terem celebrado as bodas – Deus lhes mostrou os seus desígnios com respeito a eles. Foi um verdadeiro matrimônio. “Se acontece que, por um acordo recíproco, resolvem abster-se para sempre do uso da concupiscência carnal, nem por isso o laço conjugal fica quebrado. Bem pelo contrário, esse laço é tanto mais forte quanto com mais cuidado e mutuamente forem observadas as promessas que se fizeram, mas não pelos nós sensuais. Com efeito, não foi em vão que o Anjo disse a José: não temas receber Maria, tua esposa. Deste modo, Maria é chamada esposa devido aos seus compromissos, embora seu esposo nunca se tivesse aproximado dela nem o fizesse mais tarde” (Santo Agostinho in “De nuptiis et concupiscentiis”).

Quem não for capaz de compreender um amor assim, conhece muito mal o verdadeiro amor, e desconhece por completo o sentido cristão da castidade. Diante de tudo que Maria e José sabiam dessa manifestação do sobrenatural sobre as suas vidas, restavam-lhes a mesma palavra que Deus dirige a Paulo: “Basta-te a minha graça” (2Cor 12,9).   

 

 

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