O Esposo de Maria
Como
já havíamos expressado anteriormente, os dados sobre como são José desempenhou
a missão a que foi chamado e às circunstâncias em que se desenrolou a sua vida
são bastante escassos. E muitos desses dados não são seguros e fidedignos, por
isso, alguns elementos que tentamos construir sobre são José vêm da fé e da
meditação, mas apoiados na doutrina da Igreja.
Quando
José aparece mencionado pela primeira vez no Evangelho é já como um homem
ligado a uma mulher: “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus,
chamado Cristo” (Mt 1,17). Durante muitos séculos, São José era apresentado
como um ancião, provavelmente por influência do apócrifo de São Tiago e outros
parecidos. Nesses escritos conta-se que a Virgem Maria, já residente no Templo
de Jerusalém em sua consagração, chegada a idade dos doze anos, período da
menstruação, não podendo permanecer no Templo, é entregue aos cuidados de um
ancião, que já possuía filhos (daí também a justificação dos irmãos de Jesus e
também opor-se à heresia de que José era o pai natural de Jesus), ‘o santo
ancião José’.
Muitos
autores não concordam com essa opinião generalizada de considerar São José um
homem idoso. “Já no século XVII se
argumentava com razões poderosas, para defender a juventude de José dos esposais
com Maria. É evidente que a honra da Virgem ficava mais bem defendida com um
marido jovem do que com um velho. Como se observou acertadamente, a avançada
idade de São José tornaria ridículo o voto de castidade que, segundo opinião
generalizada, ele fez. E, além disso, convém ter em conta as circunstâncias em
que se iria desenrolar a vida da Virgem e de Jesus, exigiam o apoio de um homem
jovem, capaz de decisão e de esforço, e não de um velho” (Federico Ruiz,
“José, Esposo de Maria”).
Nos
planos divinos estava o nascimento de Jesus no seio de uma família, ainda que
sendo um núcleo pequeno. Maria e José tinham papeis a desempenhar nos anos que
precederam a vida pública de Jesus, e foram sobrenaturalmente instruídos para
isso. Entra aqui também a questão da descendência de José da casa de Davi,
afirmada por Mateus e Lucas, e como entre os judeus as uniões se dão entre
membros da mesma estirpe, fica claro que Maria também era da estirpe real. O
casamento com José também tinha por finalidade evitar que Maria sofresse a pena
legal ao conceber um filho que não era do seu esposo (cf. Dt 22,21).
Mas
fora todas essas razões, é preciso lembrar que qualquer criança precisa de uma
família, e que essa seja completa. Um lar precisa de um grande coração, mas
também de uma cabeça. Deus poderia ter prescindindo de José ou mesmo da Virgem
para estabelecer de outros mil modos o plano salvífico, mas Ele o quis assim,
no seio de uma família, de acordo com o lugar, as gentes e o tempo da sua vinda
ao mundo, e que deveria se realizar sem estridências. Assim, foi melhor que
julgassem a Jesus como filho de um homem comum, sendo Filho do Pai Eterno, do
que comentarem sobre a honra de Maria. Deus também não a quis casada com um
homem que lhe desse outros filhos. Que Ele nascesse no seio de uma família do
povo eleito, para cumprir-se as profecias. José deveria amá-la e ser homem o
bastante para respeitar sua pureza virginal. Foi José esse homem justo que Deus
elegeu para essa difícil missão. “E toda
a santidade de José está no cumprimento fiel até o escrúpulo desta missão tão
grande e tão humilde, tão alta e tão escondida, tão resplendente e tão cercada
de trevas” (Pio XI).
É
importante que guardemo-nos de pensar que o matrimônio de José e de Maria seria
apenas uma espécie de ficção legal. Casaram-se porque se amavam é só depois,
quando já estavam desposados – mas ainda sem terem celebrado as bodas – Deus
lhes mostrou os seus desígnios com respeito a eles. Foi um verdadeiro
matrimônio. “Se acontece que, por um
acordo recíproco, resolvem abster-se para sempre do uso da concupiscência
carnal, nem por isso o laço conjugal fica quebrado. Bem pelo contrário, esse
laço é tanto mais forte quanto com mais cuidado e mutuamente forem observadas
as promessas que se fizeram, mas não pelos nós sensuais. Com efeito, não foi em
vão que o Anjo disse a José: não temas receber Maria, tua esposa. Deste modo,
Maria é chamada esposa devido aos seus compromissos, embora seu esposo nunca se
tivesse aproximado dela nem o fizesse mais tarde” (Santo Agostinho in “De
nuptiis et concupiscentiis”).
Quem
não for capaz de compreender um amor assim, conhece muito mal o verdadeiro
amor, e desconhece por completo o sentido cristão da castidade. Diante de tudo
que Maria e José sabiam dessa manifestação do sobrenatural sobre as suas vidas,
restavam-lhes a mesma palavra que Deus dirige a Paulo: “Basta-te a minha graça”
(2Cor 12,9).
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