São José – Parte I


Apresentação:

Iniciamos agora os prometidos artigos sobre são José nesse ano a ele dedicado pelo Papa Francisco, antes que esse ano termine. Para essa empreitada vou me servir do que já foi escrito sobre o mesmo por alguns autores (citados dentro dos artigos), que de cara salientam a dificuldade de escrever sobre alguém que quase nada se tem historicamente registrado. Por isso, o que temos aqui não é uma biografia, mas reflexões em torno da figura de São José. O que afirmamos a seu respeito são considerações baseadas em alguns dados, nem sempre explícitos, mas revelados no Evangelho.

Em seu “Livro da Vida”, no capítulo 6, santa Teresa de Jesus nos deixa seu testemunho a respeito da sua devoção a são José: “... tomei por advogado e senhor o glorioso São José, encomendando-me muito a ele. [...]. Se a outros santos o Senhor parece ter concedido a graça de socorrer numa necessidade, a esse Santo glorioso, a minha experiência mostra que Deus permite socorrer em todas, querendo dar a entender, que São José, por ter-Lhe sido submisso na terra, na qualidade de pai adotivo, tem no céu todos os seus pedidos atendidos. [...]. Se eu fosse pessoa cujos escritos tivessem autoridade, de bom grado descreveria longamente as graças que esse glorioso Santo tem feito a mim e a outras pessoas; mas, para não fazer mais do que me mandaram, em muitas coisas serei mais breve do que gostaria e, em outras, me alargarei mais do que devo, como quem em tudo o que é bom tem pouca discrição. Só peço pelo amor de Deus, que quem me crê o experimente, vendo por experiência o grande bem que é encomendar-se a esse glorioso patriarca e ter-lhe devoção. As pessoas de oração, em especial, deveriam ser-lhe afeiçoadas; não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos, no tempo em que tanta angustia passou o Menino Jesus, sem se dar graças a São José pela ajuda que lhe prestou. Quem não encontrar mestre que ensine a rezar tome por mestre o glorioso Santo, e não errará no caminho. Queira o Senhor que eu não tenha cometido erro por me atrever a falar dele; pois, embora apregoando que lhe sou devota, em servi-lo e imitá-lo sempre falhei”.

Com esse espírito de Tereza me aproximo nessa escrita para falar desse santo pelo qual me afeiçoei particularmente nos anos que fui pároco da São José Operário, o que me levou a uma proximidade maior de sua figura na história salvífica. As pessoas foram me ajudando a compreender a importância de são José em suas vidas e na relação com o próprio Jesus.

 

 

A Figura de São José - 1ª Parte

 

 

São José não pertence àquele tipo de santos que despertam a nossa admiração e suscitam um desejo de repetir os seus gestos. Deveríamos antes situá-lo entre esse tipo de homens nos quais se, por causalidade, repararmos alguma vez, jamais nos sentimos impelidos a lançar um segundo olhar. Um homem comum que passa pelo Evangelho sem pronunciar uma só palavra. Nada escreveu. Não fez nada que ultrapassasse os limites das ações comuns.

De fato, São José não foi um homem brilhante. Não deixou nada de grandioso para a posteridade. É verdade que nem sequer tentou fazê-lo e, pelo que dele sabemos, não parece ter sido uma questão que lhe tirasse o sono ou que o submergisse na angústia. Mas, desde quando é que a qualidade de um ser humano, seu valor como tal, se medem pelo grau de brilhantismo que possa possuir? Há quem julgue os outros de acordo com certas normas convencionais, baseadas mais na aparência do que na realidade, e dão mais valor ao que é visível e externo do que ao que é verdadeiro, embora oculto.

Embora existam tantos seres humanos comuns, que nunca fizeram nada de especial que mereça ser narrado, mesmo assim poderá merecer muita estima, poderá ser uma pessoa boa. Mas ninguém tem tempo para se dedicar a contemplar todos os seres humanos bons que passaram por este mundo. Há coisas mais importantes a fazer, coisas mais urgentes, mais úteis, mais necessárias.

Se levarmos em conta os critérios desse mundo, o fato de Deus ter escolhido este homem para lhe confiar a guarda dos dois maiores tesouros que jamais houve na terra, Jesus e Maria, não tem muita importância. Um discípulo de Cristo nunca deve aceitar seja o que for, apenas pelo seu valor aparente. Essa avaliação não lhe serve; necessita de conhecer o seu valor real. E o valor real das coisas criadas, sejam quais forem, o seu valor mais profundo e verdadeiro, tem muito a ver com Deus, com Cristo, com o mundo sobrenatural e com a revelação.

Por isso, o fato de Deus ter escolhido José para esposo da Virgem Maria e pai legal de Jesus é motivo suficiente para pensar que, apesar de tudo, talvez não tenha sido um homem tão comum assim, uma vez que o próprio Deus o escolheu – mais ainda, o criou – para desempenhar uma das missões mais difíceis e de maior responsabilidade jamais confiada a um homem.

“É, porventura, esta consideração, a da escolha de José para esta missão peculiar que pode servir de ponto de partida para um conjunto de reflexões que nos levarão, muito provavelmente, a aumentar de modo considerável a estima e o respeito por este santo. Porque este homem que, aparentemente, não passa de ser um homem bom, uma personagem um tanto desvaída, que nunca fez nada de relevante, apresentasse-nos com uma categoria muito pouco corrente; este homem que não pronuncia uma só palavra na passagem pelo Evangelho, dá-nos, com seu silêncio, uma lição de esmagadora eloquência; este homem que não escreveu uma linha, nem nos legou um só pensamento, ensina-nos algumas lições tão profundas que é duvidoso que uma não pequena parte dos homens de hoje sejam capazes de as perceber, dada a pouca afeição que o homem contemporâneo sente pela reflexão, e o pouco tempo que o trabalho, os negócios, as pressas e o constante desejo (ou insatisfações?) de mudança lhe deixam para o fazer” (Federico Suarez – José, Esposo de Maria).  

 

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