Como
começou a criação?
1. Uma
situação: Um costureiro, um perfumista: se gabam de lançar uma nova ‘criação’.
A palavra aqui é usada num sentido mais amplo. Por mais nova que seja uma moda,
terá que se buscar um tecido de algum tipo. Por mais agradável que seja um
perfume, tem que se buscar numa espécie de ingrediente ou combinações.
- ‘Criar’ significa
‘fazer do nada’. Nesse sentido, só Deus, cujo poder é infinito, pode criar.
Assim o autor do Eclesiastes tem razão em dizer que não nada de novo sob o céu.
Em toda e qualquer forma de criação, estaremos trabalhando todo o tempo com
materiais já proporcionados por Deus.
2. Quando
Deus cria, não necessita de materiais ou utensílios para trabalhar.
Simplesmente quer que alguma coisa seja, e pronto, essa coisa surge. Gn 1,306.
CIC 296.
- A vontade criadora
de Deus não só chamou todas as coisas à existência, como as mantem nela. Se
Deus retirasse o sustentáculo da sua vontade a qualquer criatura, ela deixaria
de existir naquele mesmo instante; voltaria ao nada do qual saiu.
3. Os Anjos. Primeira obra da
criação. Um anjo é um espírito: um ser com inteligência e vontade, mas sem
corpo, sem dependência alguma da matéria. CIC 328. O anjo, como ser espiritual
é completo e superior ao ser humano.
- A alma humana é
também espírito, mas nunca será um anjo, pois foi feita unida a um corpo físico
(já tratamos do assunto ao falarmos da Ressurreição da Carne e da Vida Eterna).
- A literatura e o
cinema nos trazem histórias de habitantes de outros planetas, geralmente
representados como mais inteligentes e poderosos que nós. Mas dificilmente, por
mais criativo que fossem, poderiam descrever com justiça a beleza, a
inteligência e o poder de um anjo.
- O anjo está na
ordem inferior desses seres espirituais. A Sagrada Escritura enumera os
arcanjos, os principados, as potestades, a as virtudes, as dominações, os
tronos, querubins e serafins. Se um anjo é superior ao ser humano... que dizer
de um arcanjo.
4. Pouco
sabemos sobre os anjos, sua natureza íntima ou os graus de distinção entre
eles. Nem quantos são.
Dn 7,10 – CIC
331-333: as principais aparições no Antigo e Novo Testamento.
- Foi nos dado
conhecer os nomes de 3 anjos: Gabriel (‘Fortaleza de Deus’); Miguel (‘Quem como
Deus’); Rafael (‘Remédio de Deus’).
- Parece que Deus
fez-nos apenas vislumbrar a magnificência e maravilhas de realidades que um dia
viremos a conhecer. Nossa atenção permanece em Deus, cuja perfeição é
incomensuravelmente superior ao mais perfeito dos seres celestes.
5. Os anjos
são dotados de vontade, que os faz supremamente livres. Para alcançar a Deus é
necessário amá-lo. É pelos atos de amor a Ele que o espírito, seja anjo ou alma
humana, fica habilitado a contemplá-lo eternamente.
- Este amor tem que
ser provado pelo único modo como o amor pode ser provado: pela livre e
voluntária submissão da vontade criada por Deus, por aquilo que chamamos
comumente um ‘ato de obediência’ ou um ‘ato de lealdade’.
- Nesse sentido, os
anjos são dotados de livre arbítrio para que fossem capazes de fazer o seu ato
de amor por Ele, de escolhê-lo. Só assim podem entrar em união eterna com Ele,
ao que chamamos ‘céu’.
6. Não
sabemos a que prova os anjos foram submetidos. Alguns teólogos pensam que Deus
deu aos anjos uma visão prévia de Jesus Cristo, o Redentor da raça humana, e
lhes mandou que o adorassem em todas as suas humilhações: no estábulo (criança)
e na cruz (um criminoso). Segundo esta teoria, alguns anjos se teriam rebelado
ante a perspectiva de terem que adorar ao Deus encarnado.
- Conscientes da sua
própria grandeza espiritual, da sua beleza e dignidade, não quiseram fazer tal
ato de submissão que adoração a Jesus lhes pedia. Sob a chefia de um dos anjos
mais dotados, Lúcifer, ‘Portador da luz’, o pecado do orgulho afastou de Deus
muitos anjos, e o terrível grito ‘não servirei’, ecoou nos céus. CIC 392.
- É aqui que começa
o inferno. Inferno é essencialmente a rebelião de um espírito que se separa de
Deus.
7. Quando a raça
humana pecou na pessoa de Adão, Deus ofereceu ao gênero humano uma segunda
oportunidade. Mas não aos anjos, dada a sua perfeita clareza e liberdade. Nem a
infinita misericórdia de Deus poderia encontrar desculpa para o pecado dos
anjos. Neles não houve ‘tentação’, pois compreendiam num grau que nenhum ser
humano poderia chegar...
- Sua decisão é
definitiva. Essa rejeição a Deus e a todas as suas obras é eterna. Não sabemos
quantos anjos pecaram. A Palavra faz vislumbrar um grande número.
8. A esses
anjos caídos, comumente chamamos de demônios. Satanás é uma palavra hebraica
que significa ‘adversário’. Eles se tornaram, por sua vez, adversários dos
homens por extensão ao ódio que têm a Deus. esse ódio torna-se mais
compreensível à luz da crença de que Deus criou o homem precisamente para
substituir os anjos que pecaram.
- Ao pecar, os anjos
não perderam nenhum dos seus dons naturais. São inteligentes e possuem um poder
sobre a natureza incomparavelmente superior aos seres humanos. Assim, toda a
sua inteligência e todo o seu poder concentram-se em afastar do céu as almas a
ele destinadas.
- Seu esforço é
arrastar o homem ao seu mesmo caminho de rebelião contra Deus. Por isso dizemos
que estes nos tentam ao pecado.
- Não conhecemos o
limite exato do seu poder. Ignoramos até que ponto pode influir sobre a
natureza humana, mas não pode forçar-nos a pecar, não pode destruir a nossa
liberdade de escolha.
O demônio é real?
9. Há sempre
algum bem, mesmo no pior dos seres humanos. Enquanto que demônio é 100% mau,
ódio... Se nos sentimos mal ao encontrarmos alguém manifestamente depravado,
conviver eternamente com um ser assim é algo difícil de pensar.
- Haverá sempre o
perigo de esquecer essa força viva e atuante. Transformá-lo numa ‘superstição
medieval’. O pior erro seria ignorar sua existência; as possibilidades de
vitória de um inimigo aumentam em proporção à cegueira ou inadvertência da
vítima.
10. Se um
simples ser humano pode induzir-nos a pecar, o demônio, se pode dizê-lo, com
muito mais poder de convicção, coloca-nos perante tentações sutis e muito menos
claras.
- Não esqueçamos que
sempre podemos dizer não. Compreendemos que nem todas as tentações vêm do
diabo. Muitas vêm do mundo que nos rodeia, até de amigos e conhecidos. Outras
procedem de forças interiores profundamente arraigadas em nós – que chamamos
paixões – forças imperfeitamente controladas e, com frequência, rebeldes, que
são o resultado do pecado original. Mas se quisermos podemos sempre dominá-la.
11. Deus não
pediria de nós aquilo que não podemos dar. Não devemos angustiar-nos, se nos
vem tentações constantes. É vencendo-as que adquirimos o mérito diante de Deus,
por estas batalhas crescemos em santidade. Teria pouco mérito sermos bons, se
fosse fácil. CIC 395.
- Essa batalha não
vencemos sozinhos. É necessário o auxílio de Deus. Fazemos o que está ao nosso
alcance, na busca dos sacramentos e na oração habitual. Deus não pode fazer
tudo por nós. É necessário que evitemos o perigo desnecessário: lugares,
pessoas, circunstâncias. Se buscamos o perigo, ataremos a mão de Deus.
Conclusão: Que
os anjos nos ajudam, é matéria de fé. Se não acreditamos nisso, também não
acreditamos na Palavra, na Igreja. Que cada um tem um anjo da guarda pessoal,
não é matéria de fé, mas crença comumente aceita por todos os católicos. E
assim como honramos a Deus com a nossa devoção aos seus amigos e heróis – os
santos – cometeríamos um grande erro se não honrássemos e invocássemos as suas
primeiras obras-primas, os anjos, que povoam o céu e protegem a terra.
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