1. Éfeso
Segundo
Atos dos Apóstolos, Paulo havia visitado brevemente Éfeso na sua viagem de
Corinto a Jerusalém (At 18,18-22), dando início a uma comunidade que deixou aos
cuidados de seus colaboradores Priscila e Áquila. Ao retornar a Éfeso para
continuar a evangelização ali iniciada, Paulo prega por três meses na sinagoga
e, por mais dois anos, serve da escola de Tiranos para seu apostolado (At
19,1-20).
Éfeso era uma das grandes cidades do Império Romano. No
tempo de Paulo, devia ter 600 mil habitantes. Uma cidade de posição estratégica
tanto a nível comercial, por causa do seu porto, e do ponto de vista religioso.
Lá estava o templo de Ártemis, a deusa da fertilidade e da vida. Sendo cidade
portuária e recebendo gente de diversas culturas e religiões, sobretudo Egito e
do Oriente, era também um importante centro cultural, sendo então famosa a
Biblioteca de Éfeso.
Paulo escolhe Éfeso como uma base de apoio para seu trabalho
missionário. Permanecendo ali por cerca de três anos, pôde fundar mais de uma
comunidade em Éfeso e alcançar as regiões vizinhas da Ásia Menor, fundando lá
também mais comunidades, entre os anos de 52 e 57.
2.
Onde e por quem foi escrita.
Paulo teria escrito essa carta no período de sua última
prisão em Roma, entre os anos 61 e 63. Nas últimas décadas se têm questionado
se a mesma foi escrita por Paulo e se teria sido enviado tão somente aos
cristãos de Éfeso, pois antigo manuscrito não consta o nome Éfeso. Teria sido
então uma carta circular onde o destinatário teria sido acrescentado depois?
Tal teoria vem do fato da Carta não tratar de um assunto ou situação específica
ou resposta à comunidade sobre um problema concreto como nas demais cartas.
A carta poderia ter sido escrita por um discípulo do
Apóstolo tempos depois com o objetivo de propor como uma síntese de toda a
mensagem de Paulo para as novas gerações de seguidores de Jesus, por volta dos
anos 90 na Índia já não existiam os apóstolos.
A carta aos Efésios, juntamente com Colossenses, Filipenses
e Filêmon, é considerada uma das cartas do cativeiro, pois nela há diversas
menções à prisão de Paulo (3,1; 4,1; 6,20).
3.
A carta
Podemos dividir a Carta aos Efésios em duas partes
principais. A primeira, nos capítulos 1 a 3, é mais doutrinal, apresentando o
ministério de Cristo e da Igreja, ou seja, o plano ou a vontade de Deus para a
humanidade, ao agir por meio de Cristo e da Igreja. A segunda parte, nos
capítulos 4 a 6, é mais exortativa, trazendo indicações de como os cristãos,
salvos pela graça e pela fé em Cristo, devem comportar-se em família e em
sociedade para testemunhar a vida nova em Cristo.
O autor de Efésios apresenta Jesus Cristo glorioso como a
cabeça do corpo que é a Igreja universal. A preocupação não era mais tanto com
as diferenças entre os seguidores de Jesus de origem judaica e os de origem
pagã, mas com o que unia as igrejas no único corpo de Cristo. Ou seja, uma
igreja que se define sobretudo pela unidade, e não mais pelo conjunto de
igrejas diferentes e espalhadas pelo mundo. O tema da unidade aparece,
sobretudo, nos capítulos 2 e 4 (4,4-16). Em Jesus Cristo, de fato, vive-se uma
nova realidade, na qual todos, judeus e gentios, pela graça, como puro dom de
Deus, foram salvos por meio da fé (2,8). A nova humanidade em Cristo implica um
novo modo de viver, implica o desafio de abandonar a velha humanidade
(4,22-24).
No terceiro capítulo, fala-se do mistério da salvação. Esse
mistério é o plano de Deus: seu projeto de, em Cristo, salvar toda a
humanidade. A missão do apóstolo Paulo é ser ministro desse projeto de fazer o
Evangelho chegar a todas as nações (3,1-13). Segue, então, uma súplica
(3,14-19) para que o amor que é raiz e alicerce, habite os corações pelo
Espírito. A vivência do amor de Cristo forma a nova criatura.
Os capítulos 5 e 6 trazem, sobretudo, uma catequese ou
ensinamento sobre o novo modo de se comportar dos que vivem segundo a nova
humanidade em Cristo. A razão ou a motivação para o novo modo de vida é o
próprio amor de Deus, manifestado em Cristo (5,1-2). Outras instruções se
referem às relações entre marido e mulher, marcadas pela sociedade patriarcal
daquele tempo (5,21-33), e que desafiam as comunidades de hoje a resgatar o
protagonismo original que as mulheres tinham nas comunidades paulinas. Do mesmo
modo, trata-se da convivência entre pais e filhos, entre patrões e escravos,
destacando-se o respeito mútuo.
Antes das saudações finais, a carta circular compara a vida
cristã a um combate (6,10-17). Os seguidores de Jesus devem armara-se como os
soldados de então, com a armadura de Deus, o cinturão da verdade, a couraça da
justiça, o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a
Palavra de Deus.
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